A noite traz a fragilidade embrulhada

17:50

Como algumas noites conseguem ser particularmente desinteressantes… A música ambiente consegue ser do mais corriqueira possível, as conversas conseguem ser do mais superficial possível, as caras desconhecidas conseguem ser demasiado frequentes. A atmosfera social é povoada por uma paz de espírito de fachada. Os meus olhos ficam cansados de tanta discrição extravagante.

Prefiro ficar na solidão do meu quarto a alimentar tanta verborreia banal - consequência directa de tanta pobreza de espírito partilhada. Detesto os que fazem questão de exibir as falhas dos outros para destacar as suas pseudo-virtudes. As pessoas pretendem mostrar sempre a sua melhor figura, a sua melhor performance. Porém, a aparência é frágil e em cada escurecer do sorriso, descobre-se uma carência escondida; a cada reiteração de algo que já foi dito, mostra-se a necessidade premente de cativar a atenção alheia.

Porque é que, esta noite, a música do Jorge Palma faz ainda mais sentido? "Esta noite estou tão frágil", não propriamente eu, mas sim a maioria daqueles que se acotovelam na discoteca, em danças frenéticas e solitariamente acompanhadas. Vestem-se as seduções de autoconfiança que vêm e vão com as luzes. Bebem-se uns copos e os desabafos servem-se ao balcão, em gritos sem voz audível no meio de uma música altíssima, ritmada, alegre, que está nos tops. Poucos realmente acabam a noite com o espírito pleno. Preferem cansar o corpo para relativizarem o cansaço da alma. Chegam a casa para dormir, exaustos, sem pensar no quanto de fútil teve a noite.

Há olhares de mistério que me prendem aqui e ali, porque parecem distantes do lugar que ocupam, estão ausentes do seu foco de precisão. Fico a pensar que, embora assim seja, deixam que a sua faceta mais acessível (e por sinal também a menos cativante) seja a que todos conhecem, enquanto a outra permanece na quietude de um sentimento interior de vácuo.

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