Pensando...

00:53

O sino toca. São duas da tarde de um domingo ameno, neste Outono frio. Daqui aprecio uma parte da cidade – aquela plantada à beira-rio. O barulho agradável da água a cair numa fonte próxima faz-me nunca desejar mais do que isto: harmonia.

Hoje sinto-me em paz comigo mesma e com o mundo, apaziguei as frustrações que já passei e já quase consegui esquecer as mágoas que um dia sofri. Estou convencida que esta sensação de bem-estar perdurará o tempo que eu quiser. Basta de permitir que alguma coisa e/ou alguém destabilizem este equilíbrio interior.

Gostava de ter aqui alguém comigo para partilhar este segredo? Não, não gostaria! Há coisas demasiado íntimas, pertença exclusiva de nós mesmos, que não podem ser contadas nem à pessoa em quem mais confiamos.

Vejo os carros ao longe e ouço gargalhadas à distância. Tenho comigo a cumplicidade de um qualquer silêncio que não me pergunta o que sinto, nem pretende saber o que não tenho. Mexo os pés e o barulho resultante deste movimento dá-me conta da presença de folhas outonais. Não está sol, mas há todo um céu azul que se estende preguiçosamente no meu campo de visão.

Agora foco a minha atenção na enorme ponte branca. Penso nos carros que se cruzam e imagino a velocidade do andamento... Já abandonei esse ritmo frenético que não me permite debitar pensamentos em torno de actos incontidos. Por exemplo, a pressa diária de antes não me faria reparar nos sorrisos de dois velhotes com que me cruzei há pouco na rua. Só por me ter desviado ligeiramente para que eles pudessem passar primeiro, eles agradeceram com um sorriso aberto. É agradável quando um desconhecido nos saúda com um sorriso simpático (ao qual nem sempre temos tempo de retribuir, porque em vez de caminharmos, fazemos uma mini corrida de passos)...


Um dia, também eu irei passear por aqui, mais velha, mais madura, mais vivida, mais sofrida, talvez mais feliz. Terei saudades do tempo em que era jovem e me desgastei com os pequenos contratempos da vida, sem perceber que é isso que mais tarde constituirá o background do meu curriculum vitae. Provavelmente já não perspectivarei tantos sonhos como agora, mas creio que vou manter a atitude de hoje: fazer depender só de mim (e ao máximo) o meu bem-estar interior, lutando para evitar que alguém o comprometa ou que alguma tarefa o torne frágil. Esta postura mediante a vida de todos os dias trará consigo - no reverso da luta - a paz que hoje sinto, aqui, numa tranquilidade que só se percebe, que só se valoriza devidamente se vivida com serenidade.

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