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Hoje acordei com saudades de ouvir a tua voz desafinada a cantar músicas inventadas no chuveiro. Hoje tomei o pequeno-almoço e senti falta do cheiro das torradas queimadas, que a tua falta de jeito conseguia gerar. Hoje caminhei pela rua e fiquei triste quando me voltei, olhei para a janela e não vi as tuas mãos a enviarem-me um beijo à distância. Hoje quando conduzia não vi os teus cd’s familiarizados com os meus. Hoje fui ao cinema e levei-te comigo no pensamento para fazer os comentários mais absurdos sobre as cenas mais vulgares. Julguei ouvir os ecos das nossas risadas, mas foi apenas ilusão. Hoje quando corria lembrei-me que não posso chamar-te para cronometrares os meus tempos de descanso. Hoje desapertei a pulseira do relógio, mas continuei a sentir o pulso pesado. Hoje quando desliguei o telemóvel não tive a esperança de ter um sinal de ti. Hoje tentei não pensar nos sonhos que a minha intransigência destruiu. Hoje chorei e, por milagre, senti a força das tuas mãos erguerem o meu queixo ao nível do teu e as lágrimas evaporaram com o calor que irradiou do teu olhar. Hoje espero não te ter como personagem principal dos meus sonhos, pois a plateia estará vazia e silenciosa - só haverá a minha atenção concentrada e os sons mínimos do desespero de te ter tão afastado de mim.

Manuela Pinheiro

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