Perdidos no encontro das ruas

11:54

Pelas ruas fechadas à luz e estreitas à passagem, ouvem-se as vozes que tornam típica esta cidade. Disfarça-se a idade avançada das casas com bandeiras clubísticas penduradas nas janelas. Fala-se alto, de varanda para varanda, de casa para a rua. Há turistas embriagados por esta malha urbana. Há rasgos de simpatia nas caras desconfiadas.

Mas fala-se mesmo muito alto por aqui e isso perturba-me! Os gatos estendidos ao sol, em cima de botijas vazias, tipificam a inércia das gentes ao início da tarde. O grito das gaivotas cruza o céu escurecido pela poluição concentrada. Os segredos cristalizados em múrmurios próximos, as confissões feitas em sussurros sonoros ganham novos contornos aqui, neste local onde esperas pela minha distância.

Não gostas particularmente dos dias passados aqui. As ausências revitalizam-te e as presenças confundem-te. Já passou tanto tempo e foi tão rápido... Há um cansaço residual por detrás da energia que te impede de parar. Já não és capaz de ficar, serenamente, a olhar para o rio que serve de cenário a esta despedida apressada.

Daqui a instantes, voltaremos e esconder-nos-emos por aí. No virar de cada esquina não há sombras que nos sigam. Elas caminham à nossa frente, projectadas pelo sol quente a que viramos as costas. Depois de partilharmos os desabafos, levamos connosco a mágoa das palavras que não chegámos a dizer, cultivamos na memória o abraço que ficou por dar.

Fumámos devagar e com prazer os momentos fugidios. Chegámos ao fim e deitámos fora o que já passámos da mesma forma, fácil e trivial, com que apagamos um cigarro barato no cinzeiro sujo do café. É por entre estas ruas sombrias que te deixo sem saudades nem tristezas.

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