Palavras sobre as palavras

08:02

Arranquei uma folha ao caderno dos rabiscos e não sei o que escrever. Às vezes pergunto-me porque guardo o tempo e as vivências em palavras. O que escrevo agora durará até quando? É a trilogia da inspiração desajeitada, da necessidade cultivada e do vício omnipresente que força o meu pulso a elevar as letras a uma escassa utilidade. Transformo-me em subserviente do seu poder ditatorial.

Podia estar a ver televisão de olhos apagados e a energia inutilizada numa inércia apática, mas, de mansinho, a melancolia morre nas minhas mãos e as memórias reagrupam-se num sem fim de enredos e emoções. Pego no bloco, rasgo uma folha com voracidade e endireito-me no sofá. Destapo a caneta e escrevo!

Gosto de dar às palavras um sentido próprio e aprecio, depois, as interpretações tão díspares da razão que as originaram. A interpretação que os outros dão às palavras que escrevo nunca coincidirá com aquilo que as fez nascer. O seu sentido nunca será percebido como foi sentido. Essa é a magia das palavras: são capazes de comportar o meu eu, o meu mundo, a minha visão (e mantêm tudo isso interdito!) e nas mesmas palavras cabem também vários mundos, redondos e quadrados.

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