Infantilidades

08:18

Pernas gordas, pequenas para o carrinho, lutam pela libertação do carrinho velho. Ao lado, a mesa de cor viva com tigelas e pratos pousados em diagonal e comida a ser degustada por gente grande.

Cabelo armado num carrapito esvoaça em sinal de protesto e incapacidade para alcançar a borda da mesa. Do lado de lá, um olhar feroz, reprovador, mas instantâneo como o tempo de preparação da mousse que ingere gulosamente. Tentativa de impor autoridade com duas palmaditas na mão, acompanhadas por um sorriso largo, sem envergar uma natural expressão de desapontamento.

Nova investida: pés minorcas a dar um impulso esforçado para atingir a toalha de cor neutra. Num plano um pouco superior, a altivez do descuido. Ali ao lado, uma espécie de mero acessório com vida própria a reclamar um pouco de atenção e não mais do que isso…

Eis que um rosto parecido, mais velho, se volta na sua direcção ou terá sido só enquanto procurava o tabaco no bolso do casaco? Ali ao lado, a pequena que deseja tocar a mesa, ou fugir da prisão consentida pelo carrinho, pseudo vigiada por adultos responsáveis que fumam ao telemóvel e falam quando os sentidos já ficaram queimados no cinzeiro.

Refeição tomada, bebé desgrenhada e irritada, persiste. Infantilmente só queria o aconchego de um colo e um ombro para encostar a cabecita e fingir um sono não sentido. Novas mãos colocam-lhe o cinto e amarram-na à solidão do cativeiro andante num carrinho desajustado e cómodo.

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