(Des)Empenho

07:41

Colocamos tudo de nós naquilo que fazemos, por mais pequeno que seja o empreendimento, e no fim, aos olhos dos outros, isso não foi mais do que a nossa obrigação natural, o nosso dever moral. Pelo que não se justifica qualquer consideração e o reconhecimento não passa de algo perfeitamente dispensável.

Não conseguimos agir de outra forma mesmo quando seria lícito fazê-lo. A entrega tem que ser agente activo em qualquer processo criativo, independentemente de quem vai avaliá-lo e usufrui-lo posteriormente. De nós, fica essa indelével marca d’água que nos basta.

Escher

Não há uma tentativa de apreciar tudo aquilo que está para além do que é visível no resultado final. Nunca são consideradas as horas de sol e mar que não aproveitámos nem tão pouco as conversas que deixámos de ter com a família ou os encontros que cancelámos com os amigos. Afinal, essa atitude de abdicação nunca é exigida por quem nos dirige. Se ao menos fosse pressuposta…

O pior é mesmo quando, com leviandade, defraudam as nossas mais legítimas expectativas. E dói. Bem lá no fundo, fica aquela sensação de indignação, aquela onda de revolta falhada.

Só apetece expulsar o que se sente, gritar o que se acha. Porém, as palavras morrem na garganta, os ideais naufragam e a expressão põe entre parênteses a resignação e mostra uma hipocrisia obrigatória.

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