Pingos de leite

08:45

O barulho irritante da máquina do café vai cronometrando a minha espera. Os não mais do que cinco minutos fazem-me desejar que chegues imediatamente. Não porque tenha muitos afazeres, mas porque não gosto de esperar.



Aproveito para escrever o papel com rascunhos de sentimentos e rabiscos do que ficou ainda por sentir. Só que o espaço à minha volta parece querer a minha atenção. A porta da entrada vai e vem sem parar, desprendendo aquele ruído grave. Os empregados preparam-se para a maratona matinal entre as mesas equidistantes.

Olho pela vidraça, na ânsia de te ver aparecer no início da rua. Nada. Só depois reparo que há mais cadeiras vazias do que gente. Uns lêem o jornal por tédio, outros pedem um café com a pressa em cima do tabuleiro. Conversa-se o mínimo, usando uma linguagem que desconhece expressões como “se faz favor”, “muito obrigado”.

São emitidas ordens ao balcão. Do lado de lá, a subserviência ao cliente mal-educado e prepotente incomoda-me. Apontam, depois, as baterias para a televisão até vir o café que lhes queime o mau humor.

Pelas mesas, já não há tentativas de diálogo, de travar conhecimento, de convivências circunstanciais. É tudo tão entornado de individualismo.

Há apenas os mais pequenos (poucos) que bebem o leite, ficam com bigodes e fazem questão de mandar beijos para os apressados, os desatentos, os irritados que não percebem sequer que podiam bem ser bonecos telecomandados num qualquer jogo de computador, accionado por um miúdo.

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