Na rectaguarda da penumbra

13:12


Com o último suspiro da luz, fica a sombra da solidão,
Envolvida por quatro paredes gastas e entorpecidas.
O som perturbador do relógio desprende-se, infatigável,
E quanto o desejo avariado… Só para resgatar do tempo ido
O encantamento de que me privaram sem avisar.
Acreditava, firmemente, que os ideais eram como pilares transversais
Dos sonhos que nos afagam o peito em horas enubladas.
Contudo, nos entroncamentos da vil existência a que me deixei submeter
Percebi que os lápis de cera se espalharam no recreio onde nunca saltei
E que, nos meus dedos pálidos, as forças se envergonhavam
Por não poder (ar)riscar novos traços, esboços de utopias solarengas.
Hoje, as minhas mãos envelhecidas abraçam, incondicionalmente,
Os despojos de rotas por colorir, os fragmentos desenhados a giz
Num saudoso quadro de lousa pendurado nos confins confusos
Das memórias labirínticas que nos enredam no mais profundo de nós
E não nos deixam pacificar na madrugada que nos faz companhia.
Somos nós sem a caligrafia perfeita da lógica dos demais,
Mas os nossos sorrisos, pintados a carvão, têm já esquissos
Decalcados do molde da inquietação que nos assola nestas noites
Em que nos sentimos à deriva por dentro.

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