Ambientes alfarrabistas

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Gosto do cheiro e do ar ultrapassado que a contemporaneidade lhe impregnou. São espaços, na maioria das vezes, exíguos e acolhedores. Em todas as frentes, há livros empilhados, numa ordem aparente. Gosto também dos recantos improváveis onde eles se escondem.

Vivem ali todos, em comunhão pacífica, num silêncio que me apraz. Gosto do papel amarelado, do pó fino, das lombadas gastas, das pontas enroscadas, das marcas pessoais que alguns trazem consigo.

Gosto dos alfarrabistas de vielas que frequentei durante anos. Dá-me uma satisfação particular observar que as frases de boas vindas são as mesmas e que os sorrisos ainda não se cansaram.

Vejo olhares curiosos debruçados sobre as montras, onde há livros de todos os formatos e em várias línguas. Eu estou do lado de cá, pensando que era capaz de viver por ali. Barricava-me nas contracapas e fugia para as páginas ímpares. Ocuparia o tempo livre pendurada nalguma frase boa. Esqueceria o mundo do lado de lá da vidraça embaciada. Deixar-me-ia tomar de assalto pelas palavras, ficando em cativeiro tranquilo.

Gosto das caras dos alfarrabistas que, não transbordando simpatia, são paladinos de uma atenção sóbria que aprecio. Gosto da simpatia com que me oferecem um barato e corriqueiro saco de plástico. Gosto da possibilidade de tocar em todos os livros sem vistorias reprobatórias. Gosto de vasculhar esses pequenos cubículos onde cabem mundos tão gigantes quanto os nossos horizontes.

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