Melindres anímicos

14:37

Alguém lava a loiça suja, numa cozinha próxima. Atravessam sons em fúria da parede ao lado. Estou deitada sobre a cama pequena. Tenho frio e preparo-me para uma árdua tarefa. Tenho que encaixotar mais uma desilusão, daquelas que já duram há demasiado tempo e insistem em se perpetuar.

Já lhe aplicaram explicações científicas como “defraudar expectativas”, “desencontros pontuais”, etc. Meros eufemismos. Isto que hoje me perpassa o peito chama-se desilusão e não aceito nomenclaturas mais convencionais.

Damos o melhor de nós e esperamos que seja recolhido com alegria. Não esperamos dividendos, mas agradecemos que nos poupem à indiferença e até mesmo a certos laivos de arrogância.

Precisamos de gestos resgatados ao tempo, emprestados com vagar e paciência. Mas não há tempo. É a desculpa mais recorrente. Lembro que ele corre nos relógios de todo o mundo à mesma velocidade. Afazeres distintos, acabo por aceitar. Porém, recordo que é possível fazer prolongamentos.

Alimentamos laços, mas poucos são aqueles que dão o nó à nossa volta. Ficam ali, naquele formato banho-maria, entre o frouxo e o apertado, que facilmente se desprende nas voltas do destino. E eu, lamentavelmente, sempre gostei de vínculos impossíveis de desfazer.

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