Anotações díspares

10:52


Percorro a cidade. Sigo sem destino e sem pressa. O compromisso chega de forma inesperada, quase da mesma forma como nos conhecemos. Aquela troca de palavras, que não se chegaram a registar na memória, deixou um rasto no mais fundo de nós. Essa sensação de empatia imediata, de uma promessa de cumplicidade, de um afecto duradoiro.

Há pessoas nas ruas e crianças a fugir na direcção do sol. Está sol neste sábado invulgar. Vejo os bancos do largo. Uns vazios, outros com solidões abancadas. E na sombra dos passos, não posso deixar de reparar nas lojas fechadas no centro da cidade. Deixam-me incomodada esses pontos sem vida.

Consulto o relógio. Hoje não estou atrasada. Refugio-me, por fim, neste recanto do museu, onde as pessoas lêem e fico contente. Às vezes, pergunto-me se não será um absurdo permitir que atmosferas, desconhecidos e acasos tenham tamanho poder de contaminação no meu estado de espírito. Afinal, não me interessa ir ao fundo da questão. Da mesma forma que não procuro justificar o porquê de gostar de estar contigo.

Há silêncio aqui e é bom! Ultimamente encontrar um lugar que se desmarque da presença de música é missão arriscada. O empregado é solícito sem ser presunçoso. Gosto do atendimento discreto e simpático. Espero pelo meu interlocutor numa calma que não se abrigava debaixo do meu peito há algum tempo…

Será da luz do espaço ou da quietude do senhor que se sentou na mesa do canto? Tenho o caderno à mercê dos meus disparates racionais, enquanto ele lê o jornal. Partilhamos a exclusividade de estar aqui, longe do ruído da praça ali fora.

Ambos abafámos as palavras que não saberíamos encadear. O diálogo espontâneo, sentido e indispensável ficará para mais daqui a pouco, quando chegares. Olho o pátio, a relva e a porta de vidro. E penso que é confortável esperar…

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