Interregno arreigado

04:13

Já não estamos tão próximos, tão cúmplices, tão “nós”. E o pior é que sabemos isso. As intenções ficam-se pelas palavras fugazes, cujo eco se perde na madrugada.

Talvez o tempo seja mesmo ingrato ao facilitar estes distanciamentos inconsequentes. Talvez sejamos nós baralhados e repartidos num jogo onde, em cima da mesa, se perdem os símbolos dourados para as espadas frias.

É essa sensação de tristeza gelada que sinto quando nos encontramos, por acaso ou propositadamente. No voltar das costas, rumamos a outros braços. De algum modo, o peito fica ferido por essa presença próxima que já se percepciona como longínqua.

Sobrevivem despojos de nós que não reconhecemos. Os gestos reservam-se na quietude meiga que aparentemente nos é estranha. Acabamos por nos afastar quando deixamos crescer o mutismo das palavras ditas, alicerçado nessa vontade a duas vozes que desfalece ainda antes de ter dado os primeiros passos. No entanto, o que nos une continua sacralizado.

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