Amor cortês

19:42

Um dia, também quero ter desses papéis amarelecidos, de pontas redobradas e caligrafias delicadas. Esses pedaços de papel vão imortalizar momentos e afectos de tempos em que fui feliz. O cheiro das folhas, entalado entre livros de vulgaridades ou em caixas secretas, trar-me-á o perfume inebriante da juventude.

Sim, quero ter uma caixa atafulhada desses fragmentos biográficos intransmissíveis. Quero-os para que, nos ocasos solitários, possa sorrir com as lembranças ténues de, um dia, ter sido amada. Essas letras, escritas com sentimento, vão acabar por escorregar pelo corrimão das memórias distantes.

Sei que nunca serei capaz de partilhar estas cartas, onde o amor se pendura em maiúsculas ou se esconde nas entrelinhas. Nem sequer uma cópia chegará às pessoas dignas do meu afecto ou da minha plena confiança, porque sempre houve essa barreira intransponível, feita de silêncios profundos.

Afinal, o que fica dos amores não consumados, não ousados, não plenos? E daqueles que um dia o foram, que fica deles ao fim de anos, ao fim de décadas, no fim da vida? Talvez só esses testemunhos escritos do indizível…

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