Infidelidade(s)

16:59

Encaro-te falsamente. Olho-te de frente e, simultaneamente, desvio-me. Há nesse contacto próximo uma miscelânea de suporte tão inconscientemente perversa como dissimuladamente sincera.

Retaliamos diálogos em tom monocórdico, tentando descartar qualquer sombra de envolvimento. Entre nós, as partilhas ficaram incompletas na maioria das vezes. Por isso, há esta comunicação de adro de igreja.

Detestamos os rumores e o seu contágio. Não me importa quem está, quem passou, quem comentou, quem consentiu, quem calou ou quem faltou. Não te interessa com quem ficou, o que fez ou porque não avisou.

Atiras justificações precipitadas e acintosas. Espero ilegitimamente que percebas onde está a raiz do problema, um dia. Até lá, vamos convivendo nesta impostura que preferimos encobrir.

Furtamo-nos à fidelidade que devemos a nós próprios. Massacramo-nos com culpas exclusivas. Desrespeitamo-nos quando atiramos perguntas fáceis para não ouvir as respostas verdadeiras.

É, pois, nesse vaivém que me vou esgueirando com a mesma perícia de manusear plasticina ressequida.

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