Em segredo

16:00

De repente, apercebi-me que estava em tua casa. Via-te a silhueta recortada em contraluz. Olhavas para o computador e teclavas com uma fúria semelhante à minha em situações vulgares. Não te voltaste. Era quase como se os meus passos silenciosos já fossem habituais e não estranhasses não bater à porta.

Continuaste a trabalhar e disseste qualquer coisa que já não me lembro. Contudo, recordo bem o tom da tua voz e o quão familiar o senti. Havia muita luz nessa sala de cortinas brancas e sorrisos alegres nas fotografias pousadas na mesa do canto.

Quando me aproximei mesmo de ti, de coração apertado pela consciência da vigília, os nossos olhares reconheceram-se como se tivessem crescido juntos, sem interregnos. E reconheci-te, então, por esse ar matreiro a fingir inocência. 

Era como se estivéssemos noutro tempo qualquer, indiferente ao passado e sedento de um futuro cruzado. Tínhamos amigos em comum e conhecia os teus lugares. Sabia as tuas preferências, acompanhava as tuas lutas, velava pela tua felicidade.

Hoje sonhei contigo. E nunca o saberás.

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