Evasões invertidas

13:38

imagem retirada da Internet

Acende o candeeiro. Dá-me esse livro de passagens assinaladas a lápis.

Quero ler-te poesia. Não. Afinal, quero todos os versos para mim. Preciso de me esconder na sombra do teu braço e percorrê-los em silêncio, vagarosamente.

Penso nas tardes em que a inspiração saía poética, naturalmente. O dicionário estava mesmo ao lado do caderno aberto sobre a secretária de madeira envelhecida.

Liberto-me para que os meus pés descalços sintam o chão frio nesta noite de Verão. Abro a janela para espreitar as luzes da cidade e ignorar as do céu.

Penso nas manhãs de luz em que viajava e a única bagagem que levava ia vazia. Era na mente que podia trazer tudo o que devia.

Refugio-me para que as minhas mãos suadas peguem na esferográfica. Puxo o papel e rabisco sem considerar a lógica, a pontuação ou a rima.

Por favor, dá-me esse olhar de ver o lado bom. Apenas. Empresta-me essa capacidade de recostar a cabeça na almofada e dormir. Apenas. Ensina-me a saber saborear os dias de coração feito.

Apago o candeeiro. Há calor, escuridão e (desa)ssossego aquiescido.

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