Interregnos terrenos

17:08

Parece que a razão é soberana e que, curiosamente, está do nosso lado. Somos disciplinantes nessa prepotência que não reconhecemos. As palavras que ouvimos são como artilharia pesada no punho do inimigo.

Na sombra dos anos mudos, confundimos as feições quase à mesma velocidade com que esquecemos as motivações. Talvez, a vontade seja tributária de um orgulho maior, porém, sem pejo, permanecemos impassíveis no nosso lugar.

E é por tudo e, afinal, por tão pouco que vamos ficando cada vez mais sozinhos, cada vez mais vulneráveis, cada vez mais ensimesmados. Seguimos em contramão, em desacordo absoluto com a nossa consciência.

Somamos desatenções com quem gostamos. Subscrevemos afastamentos tácitos. Deixamos de fazer aquilo que realmente nos dá prazer. Abdicamos de provisões anímicas. Seguimos em frente para não admitirmos as ausências incomuns que nos ferem.

Então, um dia, a vida esfuma-se. Assim: de repente e sem aviso. Por velhice, por doença, por acidente ou por capricho do destino, suspende-se a respiração para sempre. Não importa sequer a circunstância.

Quando jazemos mortos, acabam as desavenças familiares, aproximam-se os filhos encolerizados, chegam os amigos que não víamos há muito tempo. Quebram-se todas as distâncias num abraço forte.

Mas, quando tudo isso acontece, nós estamos frios e calados. Permanecemos inertes, sem conseguir sentir essa paz que os laços que perdemos envolvem, agora, em nossa homenagem.

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