imagem retirada da Internet Não prometam perspectivas distantes. Não vendam alegrias ocas. Basta de demagogia misturada com desgraças, à hora dos telejornais. Não soterrem o entusiasmo que resiste. Não finjam sorrisos de palhaços. Basta de apontar para o poço. Exijo um País que não vire as costas à esperança. Quero o regresso dos sonhos enlevados. ...
Os seus olhos mortiços perseguem-lhe os passos na direcção da porta. Ela caminha sem se voltar, sem perceber esse apelo silencioso, sem sentir que deve ficar. Ele queria tê-la de volta, a toda a hora. Queria tê-la tão somente à sua volta. Os seus dedos esquálidos desmaiam logo que a mão dela deixa de os segurar. A força do seu pensamento esvai-se nessa...
Invocara a natureza das coisas para se contentar com a imperfeição, com o suficiente, com o regular. Tudo se tornara mais distanciado do seu sentido primordial. Havia rendições ténues e a paz era mais consentida do que experimentada. Esvaíra-se a paixão desafogada com que se entregavam às tarefas comuns e havia simulacros de sorrisos disfarçados. Nada se esperava mais próximo do que uma conversa...
Percorro ruas apinhadas. Passo pelos pensamentos em reboliço. O olhar vagueia. Elas erguem-se por entre o casario ou num descampado e não lhes resisto. São fachadas austeras, cuja traça arquitectónica denuncia o legado deixado pelas mãos dos nossos antepassados. A ornamentação pode ser ostensiva ou praticamente inexistente. Nelas penduram-se guardiães de pedra com semblantes impassíveis. As portas de madeira são pesadas e, por...
A chuva cai copiosamente. Está frio nesta rua de passeios enegrecidos. As pessoas acotovelam-se, carregadas de sacos numa mão e de guarda-chuva na outra. Caminham munidas de sobretudos. Esperam que os sinais mudem para atravessar a estrada. Consultam o telemóvel insistentemente. Olham para o outro lado, esperam sem o ver. A chuva não dá tréguas. Um grupo de amigas fecha quase em simultâneo...
Chamava-se Ali e sorria aos estrangeiros como se os recebesse em sua casa. Talvez aquelas ruas sujas e confusas lhe estejam tatuadas na pele como paredes de uma casa maior que partilha com os compatriotas. Havia nele um gosto óbvio por aquilo que fazia: conduzia um táxi pela sua cidade. O veículo vestia-se de um amarelo amortalhado e todas as suas peças denunciavam...
Sobre a cabeça, um chapéu castanho de mel a proteger uns óculos antiquados, de lentes escuras, daqueles perfeitos para esconder a alma dos olhos. O pescoço esguio repousa nesse banco almofadado. Ao lado, um colar de pérolas falsas sobre um peito cansado, desses que abafa suspiros e cala lágrimas. Segura a carteira coçada no regaço, outrora refúgio de pequenos corpos. Ambos têm cabelo...