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Domícilio a céu aberto

03:02
Manhã fria de um domingo que existiu no tempo gelado. Ergo-me a custo e sem vontade de me despedir. Puxo os lençóis devagarinho e avanço pela escuridão do quarto. Não quero acordar o ruído. Apetece-me ir respirar o movimento das ruas, sentir a indiferença dos transeuntes e fundir-me nela também. Já caminho há algum tempo. Olho para as lojas a piscar, sem vontade de entrar....

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Desculpas

03:17
Reclamo do tempo e da falta dele. Reclamo da distância e da ausência dela. Quando falo de mim e de ti, debruço-me sobre os despojos de nós que, em instantes suspensos, sobreviveram de mansinho. Para quê? Para que os pensamentos deixem de nos morder e nos possamos perder nas suas imprecisões sem levantar questões inoportunas. Aleksandar Radovanović É escusado tentares compreender uma lógica...

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Para hoje

07:01

Aromas dourados

04:42
Os cheiros intensos impregnam uma atmosfera intimista. As mãos agitadas em torno de alguidares e frigideiras, devotas da escravidão do fogão. Há ovos, farinha, azeite, açúcar, canela e muito mais. Uma miscelânea de ingredientes que me aterroriza o olhar, aguçando o apetite. Há risadas matinais e um sentimento de paz que, só por estes dias, se deixa respirar. Há músicas da época a...

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Meia-luz

18:32
E depois de saíres, fica o vazio deitado aqui ao lado. Irrequieto e sem se remeter ao silêncio, importuna o relógio e deseja-o avariado. Quer os ponteiros estáticos e aquele tiquetaque calado. Paulo Ossião E depois de saíres, deixas-me também esta paz absurda que me assusta. ...

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Texturas mnemónicas

16:29
Já não estamos tão próximos. Sinto-o. O que ficou de ti arrasta-se por uma superfície lisa. Vai escorregando sem deixar qualquer aroma na pele. Os nossos dedos comportam-se como estranhos. Constantino Em passos pequeninos e silenciosos, há uma distância e uma desistência. Os gestos de antes perdem-se neste estertor da vontade. Os teus olhos continuam muito astutos, mas o que alcançam não passa...

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Empréstimos maternais

18:10
A tarde ensaia uma saída discreta e o portão acinzentado já ficou para trás. Ali, há correria, um crescendo de vozes, risadas em uníssono, mãos pequeninas e bocas lambuzadas. O dia vestiu-se de festa rija e ninguém arreda pé. Deambulo por ali, desejando ser invisível… Vou-me ficando pelo rasto da nostalgia e, simultaneamente, tento imaginar… Deve ser bom poder tomar conta dos filhos...

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Desacerto entre acordes

08:00
Ouço aquela música ao passar pela porta aberta. Dissuade-me a entrar, mas não impede o ressurgimento de memórias que teimo em esquecer. (imagem retirada daqui) Se algo do passado nos continua a incomodar, há que resolvê-lo para, posteriormente, seguir em frente sem pesos acessórios, que só diminuem o ritmo de progressão e debilitam a atitude. ...

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Descortesias censuradas

10:49
Perturba-me como certas pessoas dispensam, descaradamente, ditames básicos de uma educação cordial. No momento preciso, faço como os outros: assisto com passividade, mas intimamente censuro-me por essa postura de aparente indiferença. Aliás, simulacro de tolerância para uma convivência convencional e circunstancial. Não consigo perceber como é que algumas pessoas podem ter tão pouca cortesia em certas situações. Ultrapassa-me que a justificação “estou mesmo...

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Noite velha

08:53
No recanto do bar onde as pessoas falam alto e fumam muito, seguras o queixo com a mão e finges interesse. Sabes que não pertenço ali e, por isso, desejo-te perto mas não aqui. No meio dos outros, há sempre histórias heróicas onde os actos quotidianos não cabem. A teatralidade com que despem tais enredos faz-te encolher na cadeira, enquanto o resto da...

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Um pouco de chuva

07:37
Nesta estrada agreste, escalda a prepotência de quem passa em passeio... Os passos ouvem-se com o peso das botas militares. A marcha faz-se demorada, quase em jeito de desfile carnavalesco. Pela berma, seguimos nós, apressados e de azimute enterrado no peito desprotegido. Então, chega essa vontade enorme que caias, só para refrescar os ladrilhos que, felizmente, nos distanciam. ...

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