Não lhe toques nem reclames.Deixa-as livres para te agrilhoarem Sem conivência. Sente-as, porquanto é inevitável.Não as apresses, porque seria inútilOu ainda mais penoso. Desmultiplicam-se os medosNas cinzas de hojeE vagueiam os espectrosDessas apreensões ramificadas. ...
Por aqui, não preciso de olhar com atenção para os dois lados quando quero atravessar de um passeio para o outro, quase me basta usar os ouvidos. É que os carros não fazem das estradas, pistas de fórmula um. Não há urgências inadiáveis nem pressas desvairadas. À despedida dos lençóis não se segue uma tensão matinal pelas filas intermináveis de trânsito, pelos condutores...
Tinha a garganta seca e mirava os dedos mirrados, nesse anoitecer quase vespertino. Os carros passavam. Os movimentos das luzes depressa o encobriam. A fome apertava. Em simultâneo, encolhia-se o pudor de vasculhar caixotes depositários do lixo alheio, dos desperdícios de todos. Tinha as unhas sujas e olhava para o seu reflexo na montra da esquina. Nas suas costas, passavam as pessoas, cujos...
Mentes e sabes porquê. Convences-te que é necessário fazê-lo, seja para suprir a expectativa alheia, seja para encobrir medos interiores. Acreditas piamente nessa forma rebuscada de galgar sobre a realidade. E vais por aí, desmanchando as horas mortas com pequenas e escusadas omissões. Perante a importância do momento, engalanam-se em ti forças superiores, energias ocultas. Elas insinuam-se para que não sigas por aí....
Não importa o tempo que faz lá fora quando te roubo ao mundo por uns dias. Quero-te. E não me importo de assumir esse egoísmo enfermo, porque sei que partirás mais tarde. Ficarás lá longe, durante longas e intermináveis horas, essas mesmas que desfilarão por mim com ar trocista. Nesses instantes que partilhamos, sei que há sempre música. A que tu escolhes, por...
O som frenético, doentio dos carros acelerados na calçada defronte à tua casa corrói-me o sono. Enfurecidos, percorrem a rua para a esquerda e para a direita. De manhã, à tarde e à noite, sem darem descanso. Enervam o sossego de aqui estar. O som jorra dessas colunas invisíveis para ritmar as mãos que remexem a roupa ao monte ou puxam cabides. Apressada,...
Nas entranhas da boa educação ou, aliás, nos acordes do bom senso, algo se impacienta e esperneia. Os meus olhos submissos ficam em alerta perante determinadas situações. As palavras, essas, nem assumem um corpo audível, porque seria em vão. Esse tom elevado dita opiniões sentenciosas e sem grande sentido. Puxas dos galões da modernidade: grau académico, inteligência suprema, nível hierárquico. Fico quieta. Prostrada...