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Percepções outorgadas

16:11
O que sente um músico em cima do palco, quando o público canta para ele, as suas próprias músicas, do princípio ao fim, sem desafinar, sem se enganar na letra? O que sente um autor de um livro quando ouve alguém citá-lo ipsis verbis e com aquela entoação assertiva, numa conversa de café ou no banco do autocarro? O que sente um pintor quando o seu crítico...

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(I)mobilidades

17:58
Sigo, confortável, ao volante, neste domingo que cheira a Verão. Eles cruzam-se comigo. Vejo-os pelo vidro da frente, pelos laterais e até pelos espelhos retrovisores. Em todo o percurso, eram eles que davam movimento às ruas da cidade. Senti-me solidária com aquele esforço. Recordei o meu. Pelos passeios estreitos, caminhavam em passos acelerados, com sacos carregados e de computador portátil a tiracolo. Os...

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Balançando, por aí

16:13
O relógio é mero adereço no pulso. O tempo é sentido na mesma indiferença, sem picos de emoção, rasgos de ansiedade ou urgências que não possam ser retardadas. Abro a persiana, devagar. Todos os dias nascem diferentes, mas morrem da mesma forma silenciosa quando, à noitinha, corro as cortinas. Nesse intervalo, a vontade de permanecer dança com o desejo de novas aventuras. Há...

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Livre-arbítrio

17:45
Com impunidade e de sorriso feito, olhou para a câmara e proferiu aquelas palavras. Entraram em milhões de casas, à mesma hora, no mesmo tom. E será que só a mim me soaram tão surreais? Paladino da razão, abre a boca sem filtrar o pensamento pelo bom senso. Militante das opiniões sustentadas, assenta as suas em feitos daqueles que trabalharam no anonimato. Será...

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Homicida

11:47
A noite corria morna e, dentro do café, o fumo misturava-se com o relato de futebol que se desprendia do televisor e com os aromas vertidos para a chávena. Ele estava sentado, na mesa do canto, a poucos metros do balcão, de olhar posto no ecrã. O outro entrou, bem-disposto e de passo ligeiro. Dirigiu-se à empregada e pediu um café curto. O...

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Encontros inextinguíveis

15:18
Conhecemo-nos, por acaso ou de forma premeditada, a propósito de trabalho. Os encontros são (quase sempre) pontuais, com mais ou menor tempo de contacto, mas raras são as vezes que não nos deixam marcas indeléveis. Seja por essa expressão cravada que se desconhece ou pelo sorriso que nos acolhe. É o testemunho de uma vida, de uma arte, de uma luta, de um...

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Ciclo(s) de sempre

08:46
Recordo-me da expectativa de levar todos os amigos que aprenderam a escrever e a contar comigo para a nova escola, da ansiedade de ter nove professores e tantas salas no horário. O desafio parecia desproporcionado para o meu tamanho. À tona das memórias perenes, estão os jogos de futebol para consolidar os ensinamentos de matemática; as correrias após o toque da campainha, em...

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Irmandades emprestadas

18:20
Kate Hanson Se amanhã não pudesse contar convosco, a permanência nesta terra de pessoas agrestes, vestidas de armaduras e ferraduras, seria tão mais insustentável… Torna-se menos penoso saber que depois desta noite, virá mais um dia em que esperas por mim, ao fundo do corredor, a rir ou a barafustar. Não nos conhecemos desde a infância, mas não será difícil adivinhar episódios biográficos...

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Ária desconhecida

17:55
Vou provar-te que todos os dias são poesia. Dessa feita de palavras invulgaresConjugadas no presente do conjuntivoE não contra-argumentes! Não há horas que sejam folhas de rima brancaEnquanto fizeres escalada nas paredes do meu coraçãoSem cinto de segurança e sem medo das quedasE não contra-argumentes! Todos os dias tem, pelo menos, meia dúzia de versosÀ solta por aí… nas ruas, nos rostos, nos...

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Vicissitudes do tacto

10:44
Robustas. Macias. Gretadas. Perfumadas. Esguias. Seguras. Criadoras. Afáveis. Protectoras. Escondem linhas e curvaturas. Testemunham levezas e pesos. Silenciam entregas e dádivas. Suscitam o desejo do toque. Ele quer-se paciente, suave, intenso. Rolf Bertram Ali, porém, acontece precipitado, brusco, grotesco. Perde-se a expectativa da aproximação e a ansiedade de estar perto. Banaliza-se o acto em várias cenas. As luzes caem sobre ele, descaradamente. Dedos...

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Horas aprazadas

16:41
Há um prazo que dita a validade e nos deixa mais certos de que não corremos perigo no seu consumo ou mais angustiados pela pressão de não deixar passar o limite. Mais cedo ou mais tarde, tudo acaba por expirar. Pelo menos, nos seus contornos iniciais. Perdura a expectativa ilusória de olhar para as coisas e vê-las tal e qual como da primeira...

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Cultos perenes

16:59
Sempre gostei de rituais. Da sua força. Da sua certeza confortável. Ou apenas da sua previsibilidade num mundo amotinado. Sim, reparo quando algo está desviado um milímetro que seja do seu sítio habitual ou se alguém quebrou uma costume subentendido. Gosto da forma como a toalha rendada é colocada sobre a pequena mesa, ainda com as dobras da gaveta vincadas. Das molduras, de...

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