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Contar-te-ei

02:38
Hoje decidi contar-te, finalmente, a história que tomei como minha, sem o ter desejado, sem me ter sido imposto. Isto se não estiveres demasiado eufórica com a tua existência cansativa.Cresci feliz ao brincar com aquelas emoções genuínas de quando atravessamos a infância sem a valorizar. Corri atrás da bola, em equipas que gostavam realmente de me ter no seu plantel e nas quais...

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Conversas de candeeiros

08:28
É na viela apertada e mal calcetada que moram os dois velhos candeeiros de que hoje vos falo. São do tempo da aristocracia, algo que a sua tez enferrujada não consegue dissimular. Sentem-se velhos e menos inúteis à noite. De dia, lá vão desabafando, lançando previsões, ansiando confirmações que chegarão na noite seguinte. Ali não passam carros, aliás, eles nem sabem o que...

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Porquê fazê-lo?

03:02
«Foi sempre mais fácil criticar do que fazer, mais fácil destruir do que construir. Daí existirem mais críticos do que autores, mais analistas do que obreiros, mais bocas a depreciar do que cérebros e braços a produzir.» (Renato Kehn)Esta citação, afixada algures numa repartição pública, leva-me a pensar em múltiplas situações. Em comum, todas elas me recordam pessoas a criticar ferozmente os comportamentos...

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Na orla costeira

16:06
Basta que venhas assim, de mansinho, como se arrastasses o vagar de certas maresias imortalizadas. Tocas-me os pés frios com a mesma intensidade de quem abraça a areia e a leva consigo para outras paragens. Só que eu fico aqui, imóvel e de olhos marejados a fitar o horizonte, à espera de ti… ...

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Migrações

02:45
O silêncio arrefecia a tarde desse Outono nostálgico. Por toda a parte, esse chilrear contínuo e acutilante. No despique incessante dos pássaros, ouço a harmonia dos sons que nascem em sintonia com a Natureza repousada.Aqui, a pressa afaga o tempo. O sossego da íngreme estrada com asfalto gasto é perturbado de quando em quando, se acaso algum carro passeia calmamente. A terra estica-se...

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Acordar

02:04
O som agudo e irritante do despertador embate nas paredes do quarto mergulhado em escuridão. Reviro-me na cama para o silenciar. As pregas da almofada afagam-me o rosto com a sua irresistível carícia matinal. Tento escapar ao estado de vigília e, inevitavelmente, à consciência que traz consigo. Vejo as horas. Tarde para quem cedo se levanta para trabalhar. Demasiado cedo para quem tem...

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Emergências

01:43
Luzes azuis, intermitentes, são reflectidas na janela do meu quarto. Com insistência. A madrugada já vai longa. Penso que será a polícia, mas a permanência obriga-te a abandonar essa hipótese. Vou verificar. O instinto em desassossego.A ambulância do INEM estacionada. As luzes da sirene a apanharem-se nas paredes pintadas dos edifícios. Há um prédio com luzes acesas e pessoas à porta. Percebo que...

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Até onde vai o perdão

04:09
Se alguém, em determinado momento, nos falha, nos desilude, nos atraiçoa, nos magoa, conseguimos realmente perdoar?Não! Podemos tentar compreender e conseguir até aceitar, porém, acredito que, no nosso íntimo, continuaremos a tentar perdoar sem o conseguir. Podemos desculpar e tolerar, mas não perdoamos.Nós, seres humanos, não somos magnânimos ao ponto de suportar situações que foram, em tudo ou parcialmente, contra os limites do...

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Inevitabilidades

03:17
Um dia vou ter que te deixar, com ou sem aviso. Entregar-te-ei um pedaço de mim que não faz sentido longe da história, cujo prefácio nunca pensámos vir a escrever. Um dia, apaixonei-me pelo teu olhar profundamente meigo e tentei negar. Não foi necessário muito tempo para perceber a inevitabilidade dos sentimentos prementes. Um dia vi-te como a expectativa concretizada e tive medo....

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Apelo vindo da penumbra

03:00
Chego a casa, não muito tarde. Decido deitar-me e tentar adormecer. Porém, eis que, ao passar no corredor fracamente iluminado, chega-me aos ouvidos o choro da esferográfica que se solta na escuridão da sala.Para lhe limpar as lágrimas, levo também o bloco de notas, devolvendo-lhes, assim, a companhia diurna. É no papel, que agora geme, que afogo as mágoas da caneta cansada e...

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Juventude & ideais

16:59
Ele é jovem, tem vontade com ideias. Muita. Ele é arguto e destemido, mas deixa-se ficar nesse encolher de ombros quando a realidade o confronta, o amedronta e o atormenta.Há, naqueles olhos seguros, uma atitude desejosa de mudar, de trabalhar para isso, de fazer diferente e para melhor. Magritte O entusiasmo e a genica vivem naquelas mãos que seguram o cigarro trémulo e...

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Divagações

06:50
Edward HopperNesta noite enferma, sinto de novo a solidão a pesar-me. Estou triste e preocupada com isso. Será antes uma tristeza que esconde o desespero que sinto do amanhã?Apetecia-me dizer-te que sinto a tua falta, olhos nos olhos, que preciso daquelas conversas, das gargalhadas de antes, dos momentos que um dia nos pertenceram. A vida encarregou-se de nos provar que nada é definitivo,...

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Detentores do vago das essências

03:56
Por muito que pensemos em tudo aquilo que possuímos, haverá sempre algo que escapa a essa atitude de balanço. Primeiro, porque nem sempre nos damos ao trabalho (no sentido literal do termo) de pensar em tudo aquilo que, de facto, temos. Em segundo, há coisas que efectivamente não temos, mas que acabam por nos pertencer de forma simbólica. Por fim, há as outras...

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O apelo de um regaço

02:54
Vem cá. Senta-te aqui. Sim, ao meu colo. Não tenhas vergonha. Não fales. Tens que parar de evitar ouvir as vozes dos objectos que nos testemunham todos os dias.Sei que hoje, particularmente, estás cansado e triste. Escusas, portanto, de me tentar convencer do contrário com esse sorriso repuxado pelas orelhas.Não te mexas. Sossega. A calma da casa inquieta-te. Os ruídos externos soam longínquos....

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(Des)Empenho

07:41
Colocamos tudo de nós naquilo que fazemos, por mais pequeno que seja o empreendimento, e no fim, aos olhos dos outros, isso não foi mais do que a nossa obrigação natural, o nosso dever moral. Pelo que não se justifica qualquer consideração e o reconhecimento não passa de algo perfeitamente dispensável.Não conseguimos agir de outra forma mesmo quando seria lícito fazê-lo. A entrega...

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Desvendados

14:37
Kim Molinero Porque usais esses jogos esquemáticos, enigmáticos e indignos para obter informações sobre alguém, desrespeitando o seu direito de não querer partilhar? Porquê essa ignominiosa insistência em tentar descobrir se vai contra a vontade expressa do visado?Na verdade, o direito à vida privada é provavelmente o que mais violamos, ainda que às vezes sem intencionalidade. Desculpamo-nos com a curiosidade que nos move,...

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Confissão

08:46
Serei tua até ao fim desta horaPor isso, sê feliz, aqui e agora,Antes que o vento se recuse a soprarAs palavras que pensei murmurarAntes que a lua se canse e vá embora,Deixa-me dizer-te que continuarei a gostarDe ti… Até mesmo depois do 60º minuto se esgotar. Edvard Munch ...

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Do lado de cá

03:08
Empurrei-te da minha vida. Terei sentido que já estavas a mais? Ou confundi tudo e, afinal, só não estavas como antes? Sei lá…Deixei a porta aberta, mas não voltei a convidar-te para entrar. Tu também nunca mais apareceste de surpresa. Fiquei à espera de te ver entrar sem bater.Veio o Inverno, passou a Primavera e agora é o Verão que se despede. Passas...

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Apelo

09:24
Encontra-te em ti, nas dobradiças das incongruências a que te aprisionaram. Tenta resvalar apenas, tal como a água por debaixo da porta fechada ou como aquela que teima em furar as frinchas da persiana fustigada.Permite-te a viver por ti, a sentir-te sozinho por necessidade. Basta de suportar as desilusões infligidas a terceiros, que sabes capaz de minimizar. Aprende a flutuar sobre algumas coisas....

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Pré-requisito inevitável

16:27
Ele olhou para mim com esperança de que, um dia, aquelas palavras pudessem ganhar eco através da minha esferográfica pousada sobre o caderno preto aberto. Interpelou-me na expectativa de uma resposta cabal ou talvez de uma mera intenção de acção.Dizia ele que era bom que os jornalistas, um dia, falassem desse sistema de cunhas que condiciona o acesso ao mercado de trabalho. E...

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